terça-feira, 28 de outubro de 2014

Manuel Pinho - ahahahah


Manuel Pinho queria que o Novo Banco (ex BES) lhe pagasse um ordenado de 39 mil euros por mês, como administrador do BES Africa. Mas a administração do Novo Banco decidiu atribuir-lhe um ordenado de... 2 mil euros. Dá vontade de rir porque a arrogância deste individuo é enoooorme, mas por outro lado, quantos portugueses não gostariam de receber este salário todos os meses, ou mesmo 50% dele.
É este país que temos...de brincar.

Diferenças de ... pronúncia

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Gente de brincar - Michael Lothar Mendes Seufert

E aí aparece mais um competente deputado, novo, ainda na flor da idade mas com um currículo profissional invejável. Poucos na AR se poderão gabar de tais competências: eis Michael Lothar Mendes Seufert. 

Para mais informações podem consultar o blog Portugal Glorioso.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Os Professores (Valter Hugo Mãe)

 
Parece-me que este texto do VHM vem propósito dos bons tempos que esta classe goza:

Achei por muito tempo que ia ser professor. Tinha pensado em livros a vida
inteira, era-me imperiosa a dedicação a aprender e não guardava dúvidas
acerca da importância de ensinar. Lembrava-me de alguns professores como se
fossem família ou amores proibidos. Tive uma professora tão bonita e
simpática que me serviu de padrão de felicidade absoluta ao menos entre os
meus treze e os quinze anos de idade.


A escola, como mundo completo, podia ser esse lugar perfeito de liberdade
intelectual, de liberdade superior, onde cada indivíduo se vota a encontrar
o seu mais genuíno, honesto, caminho. Os professores são quem ainda pode,
por delicado e precioso ofício, tornar-se o caminho das pedras na porcaria
do mundo em que o mundo se tem vindo a tornar.


Nunca tive exatamente de ensinar ninguém. Orientei uns cursos breves, a
muito custo, e tento explicar umas clarividências ao cão que tenho há umas
semanas. Sinto-me sempre mais afetivo do que efetivo na passagem do
testemunho. Quero muito que o Freud, o meu cão, entenda que estabeleço
regras para que tenhamos uma vida melhor, mas não suporto a tristeza dele
quando lhe ralho ou o fecho meia hora na marquise. Sei perfeitamente que não
tenho pedagogia, não estudei didática, não sou senão um tipo intuitivo e
atabalhoado. Mas sei, e disso não tenho dúvida, que há quem saiba transmitir
conhecimentos e que transmitir conhecimentos é como criar de novo aquele que
os recebe.


Os alunos nascem diante dos professores, uma e outra vez. Surgem de dentro
de si mesmos a partir do entusiasmo e das palavras dos professores que os
transformam em melhores versões. Quantas vezes me senti outro depois de uma
aula brilhante. Punha-me a caminho de casa como se tivesses crescido um
palmo inteiro durante cinquenta minutos. Como se fosse muito mais gente.
Cheio de um orgulho comovido por haver tantos assuntos incríveis para se
discutir e por merecer que alguém os discutisse comigo.


Houve um dia, numa aula de história do sétimo ano, em que falámos das
estátuas da Roma antiga. Respondi à professora, uma gorduchinha toda
contente e que me deixava contente também, que eram os olhos que induziam a
sensação de vida às figuras de pedra. A senhora regozijou. Disse que eu
estava muito certo. Iluminei-me todo, não por ter sido o mais rápido a
descortinar aquela solução, mas porque tínhamos visto imagens das estátuas
mais deslumbrantes do mundo e eu estava esmagado de beleza. Quando me
elogiou a resposta, a minha professora contente apenas me premiou a
maravilha que era, na verdade, a capacidade de induzir maravilha que ela
própria tinha. Estávamos, naquela sala de aula, ao menos nós os dois,
felizes. Profundamente felizes.


Talvez estas coisas só tenham uma importância nostálgica do tempo da
meninice, mas é verdade que quando estive em Florença me doíam os olhos
diante das estátuas que vira em reproduções no sétimo ano da escola. E o meu
coração galopava como se tivesse a cumprir uma sedução antiga, um amor que
começara muito antigamente, se não inteiramente criado por uma professora,
sem dúvida que potenciado e acarinhado por uma professora. Todo o amor que
nos oferecem ou potenciam é a mais preciosa dádiva possível.


Dá-me isto agora porque me ando a convencer de que temos um governo que
odeia o seu próprio povo. E porque me parece que perseguir e tomar os
professores como má gente é destruir a nossa própria casa. Os professores
são extensões óbvias dos pais, dos encarregados pela educação de algum
miúdo, e massacrá-los é como pedir que não sejam capazes de cuidar da
maravilha que é a meninice dos nossos miúdos, que é pior do que nos
arrancarem telhas da casa, é pior do que perder a casa, é pior do que comer
apenas sopa todos os dias.


Estragar os nossos miúdos é o fim do mundo. Estragar os professores, e as
escolas, que são fundamentais para melhorarem os nossos miúdos, é o fim do
mundo. Nas escolas reside a esperança toda de que, um dia, o mundo seja um
condomínio de gente bem formada, apaziguada com a sua condição mortal mas
esforçada para se transcender no alcance da felicidade. E a felicidade,
disso já sabemos todos, não é individual. É obrigatoriamente uma conquista
para um coletivo. Porque sozinhos por natureza andam os destituídos de
afeto.


As escolas não podem ser transformadas em lugares de guerra. Os
professores não podem ser reduzidos a burocratas e não são elásticos. Não é
indiferente ensinar vinte ou trinta pessoas ao mesmo tempo. Os alunos não
podem abdicar da maravilha nem do entusiasmo do conhecimento. E um país que
forma os seus cidadãos e depois os exporta sem piedade e por qualquer preço
é um país que enlouqueceu. Um país que não se ocupa com a delicada tarefa de
educar, não serve para nada. Está a suicidar-se. Odeia e odeia-se.

 Autobiografia Imaginária | Valter Hugo Mãe | JL Jornal de Letras, Artes e
Ideias | Ano XXII | Nº 1095 | 19 de Setembro de 2012